Mova-se
3 de junho de 2025
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Desacelerar é preciso

Diversos estudos evidenciam que o excesso de velocidade é um fator determinante na gravidade dos acidentes de trânsito. De acordo…

Diversos estudos evidenciam que o excesso de velocidade é um fator determinante na gravidade dos acidentes de trânsito. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), um aumento de apenas 1% na velocidade média de um veículo pode resultar em um aumento de 4% no risco de colisões fatais. Isso ocorre porque, quanto maior a velocidade, menor é o tempo de reação do condutor e maior é a energia envolvida em um eventual impacto, o que reduz significativamente as chances de sobrevivência, especialmente para pedestres e ciclistas em áreas urbanas. Controlar a velocidade, portanto, não é apenas uma questão de cumprir regras, mas de proteger vidas humanas.

O excesso de velocidade é, acima de tudo, um reflexo do comportamento individual do condutor, baseado em uma avaliação subjetiva de risco. Ao decidir acelerar além do permitido, o motorista considera variáveis como o fluxo de veículos, a largura das faixas, a ausência de fiscalização e, até mesmo, a percepção de impunidade. Esse julgamento psicológico, muitas vezes distorcido pela experiência pessoal ou pela confiança excessiva em suas próprias habilidades, leva o condutor a assumir riscos injustificáveis, pois ainda enfrentamos uma cultura permissiva em relação a comportamentos perigosos no trânsito, o que reforça a necessidade de ações mais estruturais, contínuas e integradas.

Nesse sentido, a campanha Maio Amarelo 2025, com o tema “Desacelere: Seu bem maior é a vida”, traz uma abordagem emocional importante. No entanto, é preciso reconhecer que campanhas baseadas apenas na sensibilização, embora bem-intencionadas, nem sempre resultam em mudanças consistentes, uma vez que o medo da reprovação coletiva é mais eficaz do que alertas baseados apenas no risco pessoal. Por essa razão, é necessário repensar o foco exclusivo na responsabilidade individual. A Visão Zero, política de segurança viária adotada com sucesso pela Suécia, por exemplo, propõe uma mudança de paradigma: o objetivo não é evitar todos os acidentes, mas garantir que nenhum deles resulte em morte ou ferimentos graves.

Portanto, é fundamental redesenhar o sistema viário de forma que estradas, veículos e comportamentos humanos interajam com segurança, mesmo diante de falhas inevitáveis. A segurança no trânsito, nesse modelo, passa a ser um dever compartilhado entre usuários, planejadores e gestores públicos. Além disso, é essencial adotar o princípio de que nenhuma morte no trânsito é aceitável. Para isso, os indicadores de avaliação de campanhas como o Maio Amarelo devem ir além da simples contagem de acidentes. É preciso monitorar o número de mortes e lesões graves por excesso de velocidade, o volume de infrações registradas, a percepção pública sobre segurança viária e a quantidade de intervenções estruturais efetivadas. Acima de tudo, o sucesso da campanha não pode ser medido apenas pela mobilização pontual ao longo do mês de maio, mas sim pela sua capacidade de gerar uma transformação estrutural e cultural no trânsito brasileiro.

Matheus Duarte é engenheiro de transportes e integrante do Mova-se Fórum de Mobilidade



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