Nova tecnologia usa IA e sensores para priorizar o transporte coletivo e promete até 30% de ganho na velocidade dos ônibus nos horários de pico

Goiás acaba de dar um passo decisivo rumo à mobilidade urbana inteligente com a implantação da metronização no transporte coletivo de Goiânia. O sistema, que alia sensores, comunicação em tempo real e algoritmos de inteligência artificial (IA), integra um pacote de medidas para aumentar a fluidez do trânsito e reduzir os tempos de deslocamento. A expectativa é que a velocidade média dos ônibus nos horários de pico suba de 16 km/h para mais de 21 km/h — um ganho de aproximadamente 30% — aproximando Goiânia dos padrões internacionais de desempenho em sistemas Bus Rapid Transit (BRT).
Estudos técnicos apontam que, em trechos analisados na capital goiana, as paradas em semáforos foram reduzidas de quatro para apenas uma, promovendo maior agilidade nas viagens e contribuindo para tornar o transporte público mais competitivo. O fundador e coordenador técnico do Mova-se – Fórum de Mobilidade, Miguel Angelo Pricinote, reforça que a iniciativa representa um marco na modernização do transporte coletivo na capital. “A metronização alia conceitos clássicos de priorização à capacidade de processamento em tempo real proporcionada pela inteligência artificial. Um avanço que coloca Goiânia em sintonia com o que há de mais moderno em mobilidade urbana e demonstra o potencial dos novos paradigmas de transporte, nos quais a IA e a análise de dados permitem uma resposta adaptativa às dinâmicas urbanas”, avalia.
Para Pricinote, essa transição representa ganhos concretos, como a redução do tempo de viagem e a melhoria na eficiência dos BRTs, além de reforçar a importância de projetos integrados entre tecnologia, planejamento urbano e sustentabilidade ambiental. “Esses avanços apontam para um futuro em que a conectividade entre veículos e infraestrutura dará origem a redes de transporte não apenas reativas, mas também preditivas — capazes de antecipar demandas, otimizar fluxos e proporcionar uma experiência mais eficiente aos usuários, ao mesmo tempo em que promovem um ambiente urbano mais equilibrado, inteligente e sustentável”, pontua.
O sistema utiliza sensores nas vias e nos próprios ônibus, além de câmeras e algoritmos de inteligência artificial. A tecnologia permite o chamado Controle Adaptativo em Tempo Real com Prioridade Seletiva, em que os semáforos “reconhecem” a aproximação dos ônibus e ajustam automaticamente seus ciclos, abrindo mais tempo de sinal verde ou reduzindo o tempo de vermelho para garantir o fluxo contínuo dos veículos. A priorização semafórica com inteligência artificial já está em funcionamento no primeiro trecho do corredor Leste-Oeste do BRT (Eixo Anhanguera), entre os terminais Novo Mundo e Praça da Bíblia, e segue em expansão para os demais trechos do corredor.
Nova Mobilidade
A metronização integra uma estratégia ainda mais ampla de transformação da mobilidade urbana em Goiás, que inclui também a renovação da frota, modernização de estações, segurança nos terminais, investimentos em acessibilidade e novos projetos de micromobilidade, como a integração com bicicletas públicas. Toda a iniciativa faz parte do programa Nova Mobilidade, que reúne ações articuladas entre a Prefeitura de Goiânia, o RedeMob Consórcio, a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) e a Secretaria Municipal de Engenharia de Trânsito (SET). A proposta é tratar trânsito e transporte como partes de um mesmo sistema, com decisões integradas, foco na sustentabilidade e soluções de alto impacto para a população.
Segundo Leomar Avelino, diretor executivo do RedeMob Consórcio, a metronização representa um novo modelo inovador para o transporte coletivo. “Estamos falando de um sistema inteligente que integra ônibus, semáforos e sensores em tempo real, reduzindo paradas e ganhando produtividade. Mais do que velocidade, isso significa qualidade de vida para quem depende do transporte coletivo todos os dias. O que estamos construindo em Goiânia, com integração entre trânsito e transporte, é referência e mostra que, com tecnologia, gestão e propósito, é possível transformar a experiência do passageiro e o futuro da nossa cidade”, destaca.
Com mais de 300 mil passageiros utilizando o transporte coletivo diariamente na região metropolitana de Goiânia e cerca de 530 mil viagens realizadas em dias úteis, o sistema tem se mostrado essencial para a mobilidade urbana. A proposta, inédita no país, transforma o BRT em um modelo com características semelhantes às do metrô — e aponta para um novo padrão de mobilidade urbana na capital. “Ainda é cedo para apresentar dados consolidados, mas os testes práticos já mostram o impacto”, afirma o diretor de trânsito da Secretaria de Engenharia de Trânsito, Luis Tiago.
A metronização será estendida ao corredor Norte-Sul, com o mesmo modelo tecnológico. Todos os semáforos ao longo dos corredores do BRT serão equipados com dispositivos que rastreiam a velocidade e localização dos ônibus, promovendo uma operação semelhante à de um metrô de superfície, com interferência mínima nos cruzamentos. A redução nas paradas e o aumento da velocidade operacional resultarão em viagens mais curtas, maior pontualidade e um serviço mais competitivo em relação ao transporte individual. Com mais eficiência, o transporte coletivo se torna uma alternativa real e vantajosa, contribuindo também com a redução de emissões e com o desenvolvimento de uma cidade mais sustentável.
Goiânia no cenário internacional da mobilidade inteligente
Desde a década de 1970, Curitiba é referência nacional em BRT, com corredores exclusivos e sincronização semafórica. No cenário internacional, cidades como Bogotá (Colômbia), com o TransMilenio, e Suzhou (China), com um sistema BRT moderno e semáforos inteligentes, aliam infraestrutura robusta a tecnologias que priorizam os ônibus nos cruzamentos, aumentando velocidade e previsibilidade nas viagens.
Exemplos internacionais, como o da China, mostram que o uso de sensores e IA permite desde o cálculo de rotas com maior conforto térmico até a operação de sistemas autônomos como o ART (Autonomous Rail Rapid Transit), que ajusta rotas conforme o fluxo de tráfego. Além de reduzir congestionamentos, essas tecnologias impactam positivamente a segurança, a sustentabilidade e a eficiência dos sistemas de transporte. Com dados precisos e respostas imediatas, é possível direcionar investimentos públicos de forma mais estratégica, alinhar mobilidade e planejamento urbano e melhorar a qualidade de vida nas cidades.
A proposta goiana acompanha agora uma tendência internacional de gestão da mobilidade baseada em inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT) e análise de big data. A convergência entre essas ferramentas torna possível criar sistemas de trânsito dinâmicos, conectados e responsivos. Com isso, Goiânia passa a integrar o seleto grupo de cidades que apostam em soluções de ponta para oferecer um transporte coletivo mais rápido, previsível e eficiente.