Mova-se
2 de abril de 2024
Mobilidade

Reduzir uso de veículos é o desafio da mobilidade urbana na capital

A mobilidade urbana, há pelo menos 20 anos, desponta entre os principais problemas enfrentados pelo goianiense e desafios para a…

A mobilidade urbana, há pelo menos 20 anos, desponta entre os principais problemas enfrentados pelo goianiense e desafios para a gestão municipal

Há pelo menos duas décadas, a mobilidade urbana é citada nas eleições municipais de
Goiânia como um problema a ser solucionado por uma próxima administração. Em resumo, a
solução para a melhoria do trânsito, transporte e cotidiano da população é unânime: é
preciso reduzir o uso dos veículos motorizados nas ruas da capital. A frota atual já soma
1.332.170 veículos, o que é cerca de 100 mil carros e motos a mais do que havia em 2021,
quando começou a atual administração municipal. Se a solução é conhecida, como colocá-la
em prática é um embate, até mesmo pela impopularidade de fazer o goianiense deixar o carro
na garagem.
O diagnóstico feito por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) para a
composição do Plano Municipal de Mobilidade de Goiânia (PlanMob), a pedido da Secretaria
Municipal de Planejamento e Habitação (Seplanh), verificou que mais da metade das viagens
feitas na capital são de menos de 10 minutos. São deslocamentos feitos em até 5 quilômetros,
o que, na visão dos especialistas, poderiam ser realizados por outros modais, como a
bicicleta ou mesmo a caminhada, o que reduziria a quantidade de veículos nas ruas e, logo,
aumentaria o espaço viário para a fluidez. A minuta do PlanMob traz diretrizes e ações para
reduzir o uso do carro, mas segue sem ser oficializada ou enviada à Câmara Municipal de
Goiânia.

Integrante do Mova-Se Fórum de Mobilidade, Jeovalter Correia afirma que “está passando da
hora de Goiânia implantar o seu Plano de Mobilidade enquanto instrumento de planejamento
urbano”. “É ele que vai estabelecer as diretrizes para a mobilidade urbana da cidade; é ele
que vai identificar as necessidades de ir e vir da população, tendo como objetivo o acesso de
bens e serviços na capital. A pesquisa de Origem e Destino é outro instrumento importante
para pensar as políticas de mobilidade na cidade. Aquela que foi realizada pela UFG trouxe
bastante dados que poderiam ter sido aproveitados, entretanto, parece que ficou no papel”,
diz. Ele complementa que não é possível planejar ações para resolver os problemas de
trânsito sem o Plano de Mobilidade.
Doutora em Transportes, a arquiteta e urbanista Erika Kneib explica que “a gestão do tráfego
também deve derivar de um plano de mobilidade e de um plano (setorial) de circulação”.
“Tecnologicamente já há muitos sistemas e softwares que podem ajudar nessa questão. Mas
novamente cabe destacar que, enquanto a gestão do trânsito for feita priorizando a fluidez do
automóvel, Goiânia não terá nenhum avanço no médio prazo. Maior fluidez em determinada
região leva mais pessoas a utilizarem o automóvel, fenômeno denominado demanda
induzida. Por outro lado, prejudica-se o pedestre, ciclista e transporte coletivo, gerando-se o
famoso círculo vicioso.”
Correia acredita que é preciso que os gestores de Goiânia “parem de investir em
infraestrutura para o transporte individual com a construção de viadutos grandiosos e
recapeamento asfáltico fajutos e invistam em soluções para o transporte coletivo, a exemplo
dos corredores exclusivos”. Ele acredita que é preciso investir em soluções para integração de
outros modais ao transporte coletivo e políticas de mobilidade; na modernização dos
semáforos e sobretudo em planejamento urbano.
Para a Secretaria Municipal de Mobilidade (SMM), Goiânia passa pela mesma situação de
“toda capital brasileira ou município que concentra grandes polos geradores de tráfego”. A
pasta cita que os principais problemas são o crescente número de veículos, a necessidade de
vagas para estacionamento frente à demanda dos serviços e a velocidade desenvolvida por
condutores. “Esses problemas não apenas afetam a eficiência do tráfego, mas também têm
impactos na segurança viária dos transeuntes”, informa.
Caracterizada nos últimos anos pela gestão do tráfego, com mudanças viárias na cidade, a
SMM ressalta que as intervenções são baseadas em normas do Conselho Nacional de Trânsito
(Contran) e destaca ainda que realiza campanhas educativas “com objetivo de fortalecer a
conscientização de todos os atores do trânsito da nossa capital com a finalidade de contribuir
para a diminuição dos acidentes de trânsito”.

Solução deve ser feita em conjunto
Centro de uma região metropolitana com cerca de 2,5 milhões de habitantes, Goiânia recebe
veículos de, no mínimo, outras 20 cidades diariamente, o que faz com que a gestão da
mobilidade urbana deixe de ser restrita ao município. O transporte coletivo já possui gestão
metropolitana, com participação do Estado de Goiás e demais municípios nas tomadas de
decisões.
Para a arquiteta e urbanista Erika Kneib, que atua na realização do Plano Diretor
Metropolitano, no âmbito metropolitano, a mobilidade se torna ainda mais complexa, “pois
os limites administrativos não condizem com as dinâmicas urbanas e metropolitanas,
demandando uma gestão compartilhada e articulada seja dos sistemas de transporte, seja da
infraestrutura viária”.
Os estudos do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado da RMG (PDUI) mostram que
Goiânia concentra o maior número de postos formais de trabalho e de ensino, sendo o
principal polo de atração de deslocamentos pendulares, o que sobrecarrega os sistemas de
transporte na capital.
“Para Goiânia melhorar em diversos aspectos, é necessário pensar em escala metropolitana.
Assim, seria importante que a capital, por ter uma maior estrutura administrativa, também
tivesse um protagonismo na gestão metropolitana, procurando articular principalmente
políticas de mobilidade, uso do solo, ambientais e socioeconômicas com os demais
municípios, especialmente os conurbados”, diz Erika ao se referir a Aparecida de Goiânia,
Trindade, Goianira e Senador Canedo.
Segundo os estudos, além da lentidão e congestionamentos nas vias de acesso à Goiânia,
estes são locais de um grande número de sinistros de trânsito com óbitos. “Goiânia, como
principal polo e maior estrutura de gestão, poderia aproveitar a oportunidade e fomentar
essa articulação, principalmente em relação ao sistema viário”, afirma Erika.
Para ela, além de participar da gestão do transporte coletivo e pagar o subsídio que fomenta
o serviço, cabe à administração municipal construir a infraestrutura de acesso ao transporte,
como as ciclovias e calçadas, corredores e preferência semafórica. “Além disso, Goiânia não
adota medidas de desencorajamento do uso do carro, o que prejudica diretamente o
pedestre, ciclista e transporte coletivo. Outro ponto é planejar e adotar medidas para
diminuir o custo do transporte coletivo, a exemplo da contenção do espraiamento urbano.”



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